sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Chrysti – Capítulo 9


Mais uma noite de terror em minha vida, encontrei o monstro, ele ainda estava vivo, eu desejava matá-lo. Eu não conseguia correr, nem gritar, estava muito fraca, a droga estava consumindo o meu cérebro, seria capaz de roubar e até matar por mais uma pedra.
Encontrei um cliente, barra pesada, andava armado, ele queria o programa nessa noite, eu lhe fiz uma proposta. Dou meu corpo em troca da morte do monstro.
Trato feito. De pronto o barra pesada foi encontrar com o monstro. Dois tiros na cabeça, morta instantânea, o monstro nem viu quem o acertou. Meu corpo nessa noite era do barra pesada, fomos para o quarto alugado do bairro.Gosto de sangue na boca, acreditava que ficaria alegre, o monstro foi para o inferno. A depressão continua, a agonia na alma, meu coração parece que vai sair pela boca. A morte dele não adiantou em nada, continuo sozinha. Vejo bichos andando na parede, ouço vozes dizendo para eu me matar… quero minha mãe…
Será que não sou tão poderosa assim, acho que quero sair dessa vida, não agüento mais, estou explodindo por dentro, preciso de crack. preciso fugir.
O barra pesada estava do meu lado, levantou-se sacou a arma, foi atingido.
Eu nunca vi nada parecido, o inferno estava na minha frente, uma bala atingiu sua cabeça, ele havia acabado de matar o monstro com dois tiros na cabeça, e agora ele foi atingido. Ficou irreconhecível, seu corpo caiu ao meu lado.
Desespero, dor, tenho que me esconder. O único lugar seria embaixo do seu corpo morto. Três horas de confronto, não sobrou nada. Silêncio. Cheiro de pólvora, sangue e dor.  Policiais e paramédicos buscam por sobreviventes. Eu me levanto, estou coberta de sangue…sangue do morto.  Estou apavorada, bichos estão atrás de mim, e eu nem estou sob efeito do crack.
Não consigo pensar, minha cabeça está explodindo.
***

- Meu Deus cuida da minha mãe, eu confio no Senhor.
***
O que eu faço? Quero minha mãe…  porque eu não disse pra ela tudo o que estava acontecendo? Porque eu tive medo naquele dia? Alguém iria me ajudar… ela iria me ajudar… eu não quero mais ficar aqui, eu não quero mais essa vida…
Descendo as escadas vejo muitos mortos, muito sangue pela calçada. Meninas que faziam programas junto comigo estavam mortas, pedaços de corpos por todo lado…uma chacina.
Me sentei na beira de um bar, ou do que sobrou dele, coloquei meu rosto junto aos meus joelhos e chorei, chorei de medo, chorei de saudade, chorei por causa da depressão.
Uma voz dizia dentro da minha cabeça, para eu me matar. Tinha uma 12mm com três balas no pente, a voz começou a gritar na minha cabeça para eu me matar e eu peguei a arma na mão.
Eu não queria me matar, queria viver, queria ser feliz, mas como pode uma pessoa como eu ser feliz, não tem mais solução, eu fui abusada quando pequena, minha mãe morreu com câncer, meu pai de tanto beber, tenho uma “coisa” que saiu de dentro de mim e que eu odeio muito, não tenho família, não tenho ninguém. Como pode existir Deus, se Ele existisse não deixaria eu passar por tudo isso.
Fiquei com a arma na mão por alguns minutos, coçava minha cabeça com o cano dela, e tinha a sensação de bem estar toda vez que pensava em puxar o gatilho…
Comecei a ver monstros novamente vindo ao meu encontro, pareciam homens de preto ou vultos não sei. Davam medo, eram feios e o cheiro era horroroso, não era o cheiro de sangue das pessoas mortas, mas um cheiro podre, comecei a sentir calor, estava tudo muito quente. Os monstros estavam me chamando, queriam me puxar pela mão, eu estava ficando louca. O que eu faço agora? Puxo o gatilho?
Lembrei-me por um momento de quando tinha seis anos de idade, e minha mãe me levou a igreja, eu fiquei na escola dominical. A professora disse que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho, Seu único Filho para morrer por nós. Me lembrei que nesse dia eu havia feito uma oração, para que Deus cuidasse de mim.
- Se o Senhor está aí mesmo, se existe de verdade então olha para mim agora e mostra isso, se não vou apertar o gatilho e me matar.
Nesse momento um policial apareceu. Ele gritou:
- Sobrevivente!!
Daquele tanto de gente que havia no morro, apenas três pessoas sobreviveram, eu era uma delas.
Me levaram para uma ambulância e lá me examinaram. Eu estava em estado de choque, fui levada para o hospital. Adormeci, não me lembro de mais nada.


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