Chrysti – Capítulo 4

Passaram sete meses e minha regra não vinha. Eu sentia muito enjôo, e muitas dores abdominais. Não queria acreditar, mais a verdade estava ali. Minha barriga cresceu, como eu não me alimentava bem, pensei que era verme. Verme que nada. Fui ao médico e ele constatou assim que entrei.
- Você está grávida.
-O quê? O quê?
- Você não percebeu que seu corpo mudou?
- Sim percebi, mais achei que estava com verme, não me alimento corretamente.
Eu quis tirar a “coisa”, mas não era possível por causa do tempo que eu já estava. “ Coisa” era assim que eu chamava o ser que estava dentro de mim.
A “coisa” nasceu de oito meses e ficou no hospital em uma incubadora, eu nem quis ver a “coisa”. Era uma menina. Não tive leite, as enfermeiras amamentavam a “coisa” por outra mãe que estava no hospital.
Ela teve alta e tive que buscar aquela “coisa”. Até os três meses de nascida eu não olhei para o rosto dela, nem a alimentei, quem cuidava da “coisa” era minha tia alcoólatra. Sabe-se lá como. Ela nem me perguntou sobre a gravidez, nem quis saber quem era o pai da “coisa” horrorosa, nenhuma pergunta, nenhum abraço, nenhuma bronca… nada.
Ah se eu tivesse falado com minha mãe no dia em que tudo aconteceu. No dia do meu aniversário… nada disso teria acontecido comigo, eu não estaria perdida e o monstro estaria atrás das grades. Eu tinha que ter tido coragem para falar, para gritar, minha mãe teria ouvido, ela sim teria me socorrido!!! Ela é minha mãe, ela saberia como agir!!! Com toda certeza eu deveria falar para minha mãe….
***
Comecei a sair para baladas e conheci muita gente. Gente bonita, gente feia, gente rica, gente pobre. Eu não trabalhava fora, mais precisava de dinheiro, resolvi então ir para o lado da prostituição. Ficava alguns dias da semana com alguns rapazes e ganhava o suficiente para pagar minhas contas.
O tempo foi passando e eu não consegui sair dessa vida. Cada vez me afundava mais.
Conheci o Walther, um homem aparentemente bom, tranqüilo, porém casado. Esse era o seu problema, era casado, mas para mim isso não importava, eu queria mesmo era acabar com o casamento dele, e pegar todo o seu dinheiro. Eu tinha o ponto fixo, era lá que todos me achavam. Fiquei saindo com o Walther por um bom tempo, até que ele sumiu, dizem que foi para outra cidade, não sei se é verdade, também não é da minhaconta.
Eu já estava com 14 anos, era muito experiente na noite, e me achava dona do meu nariz. O que eu ganhava durante a noite mal dava para sustentar o meu vício na bebida, quanto mais pagar as contas, comecei a me enrolar nas dívidas, tive então que aumentar a clientela.
Trabalhava durante a noite toda, acabava um programa começava outro. Eu era muito bonita, cabelos cacheados e louros, olhos azuis como o céu, pele branca como a neve, eu estava muito magra acho que dava até para contar meus ossos, mas isso não impedia de ter muitos clientes. Eu achava até engraçado como conseguia tantos programas, parecia que tinha ajuda do além. Eu me transformava quando chegava a noite, não precisei mudar o meu nome, era conhecida como Chrysti mesmo. Chrysti, a dama da noite.
Eu sempre me protegi muito, morria de medo de engravidar novamente de outra “coisa”, só que desta vez eu não iria perder tempo, pois agora era madura e experiente, dona do meu próprio dinheiro e muito conhecida, era só fazer o aborto e tudo bem.
Mesmo me prevenindo em um ano fiz dois abortos. Eu tinha um cliente que conhecia o amigo de um doutor e que sempre ajudava as mulheres da noite a se livrar das “coisas”.
E o tempo foi passando, passando, e eu me achando cada dia mais poderosa, nada nem ninguém mandava em minha vida. O desejo de vingança contra o monstro ainda continua…
Méuri Luiza
Um comentário:
Poxa quantas jovens adolecentes estao nessa vida tragica so Deus pra ajudar...
Postar um comentário