Chrysti – Capítulo 11

Os dias foram passando e minha tia e a menina freqüentavam uma igreja. Então era por isso que elas eram diferentes. Parecia que não tinham medo, eram confiantes. Confiantes em quê ou em quem? Também quero essa confiança.
Preciso de drogas, preciso de ajuda…ao mesmo tempo que quero sair e mudar de vida, não tenho forças…
Uma grande confusão em minha cabeça!!
Não consigo ficar na luz, estou com sensibilidade nos olhos, meu corpo dói tanto que parece que não vou suportar a dor, tenho febre, sinto muito enjôo, é a falta das drogas, é assim que alguém em abstinência sente.
Não agüento mais, não vou conseguir…
***
Em uma tarde elas chegaram em casa e eu estava tendo uma crise, quebrei o quarto todo, não sobrou nada, pensei que elas iriam gritar comigo, acabar com minha vida, me expulsar de lá, me internar ou coisa assim. Fui para um terreno onde havia restos de uma construção, fiquei por algum momento sem saber o que fazer… pensava em voltar para as drogas, mas ao mesmo tempo queria uma mudança… voltei para casa…
- Tem um modo de você mudar de vida. É somente você querer. Disse minha tia.
Abri minha boca pela primeira vez depois de tanto tempo.
- Como? Estou morrendo! Não agüento mais, e vocês ficam aí paradas acreditando em quê?
- Acreditando que Deus pode mudar sua situação.
- Se Ele existisse mesmo não me deixaria passar por tudo isso!
- Não foi Deus que deu drogas para você usar, foi você que a aceitou. Não foi Deus que a colocou na prostituição, foi você quem ia todos os dias em busca de clientes. Não foi Deus quem te levou naquele dia para o meio daquela chacina. Mas foi Deus que livrou da morte naquele mesmo dia, foi Deus que impediu que você morresse naqueles programas, foi Deus que não deixou você morrer com overdose, e agora Deus lhe dá uma oportunidade de mudar de vida assim como eu mudei. A escolha é sua.
Não tive palavras, mas consegui pensar um pouco no que havia ouvido. Meus neurônios não estavam funcionando muito bem por causa da falta das drogas, mas minha vontade de voltar a ser gente e deixar de ser “lixo” era tão grande que consegui ser convencida por aquelas palavras.
Resolvi fazer um teste, seria o último. Se esse Deus não mudasse a minha vida, eu iria me matar, por que não conseguia mais viver daquela forma.
***
Um mês se passou. Dias e noites com fortes dores no corpo, em minha mente a cada segundo o desejo pela droga. Os enjôos eram constantes. Já não tinha mais vontade de morrer, e sim de viver, de mudar de vida, mas quão difícil estava sendo.
Eu ouvia palavras de fé, que Deus mudaria minha vida, mas em troca deveria dar a minha vida à Ele. Tive que arrancar de dentro de mim qualquer vontade do coração…
***
Consegui um emprego. O que eu ganhava no mês não chegava aos pés do que eu tirava num dia de programa. Mas havia uma diferença, o dinheiro rendia, eu não sei como…
Comecei a me arrumar, deixei meu cabelo crescer, meu cabelo loiro e com cachos.
Não usava mais aquelas roupas apertadas que pareciam que iam rasgar no meu corpo, minha maquiagem não era mais escura e sim suave. Meu sorriso estava voltando, às vezes ainda pensava nas drogas, mas meu desejo por sair delas era tão grande que todo dia eu pedia ajuda de Deus.
Meu corpo estava parando de tremer, as náuseas haviam sumido, não fui mais nos pontos de drogas, eu queria muito mudar, para isso eu tive que negar meus desejos e me sacrificar.
Fui mudando aos poucos, com muita luta, e perseverando na minha fé.
Havia um grande problema em minha vida, maior até que o crack… era o ódio. Ódio pela menina, que agora já não era mais a “coisa” e sim menina. Eu não conseguia falar o seu nome, era algo que estava dentro de mim, não conseguia tirar.
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